17 de jul. de 2012

Desenvolvimento Humano: Meninice

MENINICE

A inteligência concreta e o conhecimento dos 6 aos 12 anos

         A tarefa imposta à criança dos 7-8 anos, no período operacional concreto, é dominar as operações.
         Ora, a operação é uma ação interiorizada, que se torna reversível para se coordenar com outras na forma de estruturas operatórias. Assim, as ações são somadas (+), subtraídas (-), divididas (/), multiplicadas (x), formando sistemas de operações, responsáveis pelo aparecimento de noções como substância, peso, volume, espaço, série, classe, número etc., definidas ou expressas, de agora em diante, através da linguagem.
         Como, neste período, a criança só constrói essas noções a partir da ação dos sujeitos sobre os objetos reais, a inteligência é concreta.
         Ainda que muitas estruturas sejam formadas dos 7-8 aos12 anos, para que as crianças possam compreender o real e resolver questões de matemática, conquistar a alfabetização, narrar fatos em situações escolares.

A construção das estruturas operatórias concretas

         Neste período, diante de objetos novos ou em transformação, o indivíduo age trazendo para o plano consciente duas ou mais de suas características para combiná-las numa síntese mental. Dos 7 aos 12 anos, a imitação só intervém em função de necessidades inerentes ao trabalho inteligente e, neste caso, submete-se à própria inteligência – imitação simbólica..
         Uma criança, por exemplo, que teve contato com gatos de pêlos curtos e lisos, nas cores preta e manchada – representações anteriores - , ao ter contato com gatos de pêlos longos e arrepiados, nas cores cinzenta e branca – representações atuais - , pode conservar essas características no plano consciente e coordená-las, formando um significado genérico: classe dos gatos. Essa criança é capaz de assimilar objetos tão diversos, porque pode acomodar-se a eles.
         Piaget explicou esse processo construtivo dizendo: “(...) o espírito tendo tomado consciência de cada um dos fatores não mais isoladamente, mas em suas relações com os outros, todos agem ao mesmo tempo sobre o conceito e há síntese e hierarquia”.
         O sistema de operações, uma vez elaborado, constitui um instrumento para a incorporação do mundo físico e social.
         Para compreender, por exemplo, que dois copos de tamanhos diferentes têm a mesma quantidade de água, o indivíduo tem de realizar ações sobre essa realidade.
         Pode, desta forma, concluir que a quantidade de água do copo grande é a mesma que a de quatro copinhos (A+B+C+D) porque adicionou (+) mentalmente as pequenas porções de água contida no copo grande.
         É a construção dos sistemas de operações relativos à conservação da quantidade, ás séries, classes, número, espaço etc. que permite a compreensão da realidade e sua nomeação através de palavras, na forma utilizada pelo adulto.

O pensamento verbalizado e socializado

         As estruturas resultam tanto da atividade pessoal quanto da atividade cooperativa ou grupal.
         O indivíduo coordena suas ações interiorizadas de juntar, de separar, de emparelhar, de subtrair qualidades ou características de objetos, para construir as estruturas ou sistemas operatórios. Ela também coordena suas ações e pontos de vista com os de outra pessoa.
         O equilíbrio das ações e dos pontos de vista é produzido, portanto, por intermédio das ações individuais e interindividuais.
         À medida que o indivíduo constrói estruturas operatórias, conceitos e relações espontâneas, toma consciência das mesmas e designa-as por meio de palavras, ou seja, o pensamento torna-se verbalizado e os contatos sociais são facilitados.
         Para Piaget, “Do ponto de vista das relações interindividuais, a criança depois dos 7 anos torna-se capaz de cooperar, porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o dos outros, dissociando-os mesmo para coordena-los. Isto é visível na linguagem entre crianças. As discussões tornam-se possíveis porque comportam compreensão e respeito aos pontos de vista do adversário e procuram justificação de provas para a afirmação própria”.
         Essas trocas sociais através da linguagem vão favorecer cada vez mais o choque do eu com o outro, fazendo a criança tomar consciência de si – eu subjetivo – e de suas idéias, fazendo-a deixar de considerar sua visão do mundo como a única possível, para confrontá-la e, talvez, coordená-la com a de outras pessoas.
         Daí para frente o pensamento começa a socializar-se porque está aberto para combinar-se com o pensamento de outras pessoas. A linguagem torna-se mais coerente, apresentando ligações entre as noções por meio de preposições e de conjunções.
         Porém, o pensamento e a linguagem não se libertam totalmente do egocentrismo porque a conscientização das ações e de suas coordenações em representação verbalizada é lenta.

A passagem das ações às representações verbalizadas

Para que o indivíduo traduza as ações sensório-motoras de andar, por exemplo, em representações ou signos verbais, desenhos etc., precisa puxar para o plano da consciência o que foi realizado anteriormente em ação. Isto implica uma nova construção que utilizará um novo tipo de regulação (retroação e antecipação do pensamento para combinar representações).
         Em outras palavras, a reconstrução conceitualizada apóia-se em regulações mais complexas do que as utilizadas nas construções sensório-motoras.
         A conscientização é produto de uma abstração reflexiva constituída de dois momentos: uma “conversão” no sentido de uma projeção sobre um plano superior, daquilo que foi organizado no plano inferior e uma “reflexão” no sentido de reconstrução ou reorganização cognitiva do que foi transferido.
As regulações, que conduzem à conscientização das ações efetivas em representações verbais ou gráficas, estão ligadas à separação entre o conteúdo e a forma.
De acordo com Piaget, a separação entre o conteúdo e a forma – entre o ato de andar e a expressão verbal do mesmo, por exemplo – ocorre aproximadamente aos 11-12 anos, favorecida pelo processo de socialização. O indivíduo toma consciência das ações que sabe executar com exatidão quando é capaz de representar. Esta tomada de consciência é facilitada com o de outra pessoa pelo esforço de reflexão que este choque provoca.

O egocentrismo

A posse de estruturas mentais – sistemas de operações concretas – permite assimilar e designar a realidade. Entretanto, estas estruturas só se referem ao real e, especificamente, aos objetos tangíveis e suscetíveis de serem manipulados e submetidos a experiências efetivas.
O raciocínio infantil só se realiza com apoio de palavras relativas a objetos e acontecimentos materiais. Isto explica por que o egocentrismo desta fase é marcado por uma ligação exacerbada do pensamento ao real.
A ligação ao real dificulta, muitas vezes, a investigação da verdade. Ela dá uma falsa segurança à criança, como podemos constatar através da forma de egocentrismo chamada presunção cognitiva, que se manifesta através de sofismas, rigidez do pensamento etc.
O sofisma consiste numa maneira de descarregar agressão e num jeito jocoso de a criança lidar com seu novo poder intelectual. Um garoto, por exemplo, que responde à mãe que não realizou a tarefa solicitada, “quebrar ovos”, porque lhe haviam dito anteriormente que não se “quebrava nada naquela casa”, está utilizando um sofisma, uma maneira brincalhona de exercitar seu pensamento, que continua preso ao concreto.
A rigidez de pensamento, ao contrário do sofisma, pode constituir uma maneira negativa de o indivíduo lidar com o pensamento, uma vez que o prende a regras e convicções que acredita corretas, porque foram válidas em algumas situações. O erro infantil consiste em fazer destas regras recursos milagrosos, para resolução de problemas dentro de outras situações ou contextos.
Elkind lembrou que este tipo de capacidade pode explicar a atitude de alguns alunos “cabeças duras”. Esses casos, segundo este autor, constituem produto de uma formação cognitiva “normal” (rigidez do pensamento) que se tornou exacerbada devido a problemas emocionais e carência de um meio social dinâmico, no sentido de produzir conflitos de idéias.
As hipóteses formuladas neste período do desenvolvimento estão ligadas a fatos concretos e à rigidez de pensamento. Enquanto o adulto, ao testar uma hipótese, abandona-a rapidamente em função de outra, quando verifica que a evidência empírica a contradiz, a criança não repete esse comportamento.
Se ela parte da hipótese de que a manipulação de uma alavanca, por exemplo, é causa de prêmio, porque assistiu ao fato umas duas vezes seguidas, acredita nesta relação de causa e efeito. Assim, não muda sua crença, continuando a acionar a alavanca, mesmo diante de fracassos, preferindo rejeitar a evidencia do fracasso e continuar com a hipótese.
         Para vencer o egocentrismo desta fase, a criança precisa desligar-se gradualmente dos objetos concretos, e trabalhar sobre as noções, isto é, pensar sobre o abstrato.
         Quando o indivíduo vai designar adequadamente uma classe de objetos com um nome ou palavra ou fazer uma afirmação verbalizada sobre o real, precisa, antes, tomar consciência dos elementos envolvidos na situação, definido-os ou nomeando-os isoladamente (flor branca + flor vermelha = flor). Portanto, a palavra auxilia a organização do pensamento, embora não o crie.

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